Alguns momentos embaraçosos da aula
Quem trabalha com criança sabe que por mais que estejamos envolvidos na aula, não devemos em nenhum momento desviar o nosso olhar atento para tudo o que os nossos pequenos fazem. Não podemos esquecer que foram confiados a nós pelos seus responsáveis e, por isso, precisamos ter o cuidado básico para que não se machuquem, nem se arrisquem fazendo algo que possa gerar problemas.
Seguem dois exemplos curiosos que aconteceram em diferentes aulas e foram muito importantes para que a minha atenção (que costuma ser constante) fosse redobrada:
–> Propus uma atividade que continha uma caixa-surpresa (que costumo usar em muitas brincadeiras) trancada por um cadeado. Para que o cadeado fosse aberto e algum aluno conquistasse o que havia lá dentro, era preciso achar a chave certa.
Depois de muitas improvisações e aventuras na aula, uma aluna conseguiu achar a chave certa e abrir a caixa.
Enquanto a aula transcorria tranquilamente e toda a turma inventava uma parte de uma história que seria encenada posteriormente, a aluninha “vencedora” manuseava a caixa, feliz da vida.
Até que, em determinado momento, essa mesma aluninha disse: “-Pronto! Agora está tudo protegido aqui dentro.” E mostrou para toda a turma, com orgulho, a caixa trancada com várias coisas dentro, inclusive a única chave que poderia abri-la.
Depois de muitas tentativas frustradas para tentar abrir ou tentar encontrar a chave reserva (que eu não consigo lembrar onde guardei), a caixa segue trancada, até eu conseguir levá-la a um chaveiro. Até lá, nada de aventuras com caixa-surpresa! Rs!
–> Em uma das aulas, seguindo o pedido de alguns aluninhos para fazermos a Chapeuzinho Vermelho, resolvi montar esta história.
Temos um combinado na turma: tudo o que os vilões ou alguns outros personagens fazem na história, em relação a atacar alguém ou lutar, deve ser feito “de mentirinha”, já que teatro é “faz de conta”. Só que nessa aula havia um aluninho novo. Ele prontamente assumiu o papel de caçador, com uma espada improvisada em sua mão e ficou esperando ansiosamente o seu momento de entrar em cena.
Eu, de lobo (já que, muitas vezes, os vilões acabam sobrando pra mim… rs!), estava com um fantoche na mão e tão envolvida quanto os pequenos na história. Até que, de repente, quando Chapeuzinho chegou à casa da vovó e perguntou sobre aquela boca tão grande, antes que eu, como lobo, pudesse responder qualquer coisa, fui atacada pelo caçador. O aluninho, com a sua “espada” veio com toda a força (e toda a energia acumulada na expectativa para entrar na história) e, querendo salvar a Chapeuzinho, bateu muito forte e acertou meu rosto, muito perto do meu olho. Minha vista ficou turva, eu senti a dor da pancada e percebi que estava sangrando. Quando me virei, vi o aluninho que me acertou, assustadíssimo, se dando conta da confusão que tinha feito. Ele repetia: “era pra acertar o lobo, a tia não…”.
Tentei dar continuidade à aula, como se nada tivesse acontecido, saí da sala e fui direto cuidar do machucado. Resultado: Três dias com o olho muito inchado e roxo, trabalhando de óculos escuros para não assustar ninguém.
Depois dessa experiência desastrosa, comprovei o que sempre soube: a criança, de fato, embarca na história, quando fazemos o que propomos, com verdade. A partir daí, a cada aula eu repito para as crianças que teatro é “faz de conta” e observo ainda mais cuidadosamente o envolvimento dos pequenos, para permitir que eles embarquem na história sim, mas evitando contratempos e machucados. 😉
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